A estagnação do crescimento económico, a persistência das tensões
inflacionistas e a desvalorização cambial do real face ao dólar e euro,
vem degradando o poder aquisitivo de quem vive e trabalha no Brasil.
Energia eléctrica, combustíveis e alimentação são os principais
responsáveis pelo aumento da taxa de inflacção que se mantém próxima de
8% (anual), acima do tecto máximo de 6,5 % fixado pelo governo. O
epicentro de toda a instabilidade e turbulência política - económica
parece estar no sector da energia. Se as contas de energia eléctrica e
os preços dos combustíveis são os principais contribuidores da
inflacção, os escândalos de corrupção e as investigações do Ministério
Público na Petrobras têm tido repercussões negativas ao nível interno na
credibilidade do poder executivo e legislativo e vêm prejudicando a
imagem do País no exterior.
A “batalha das expectativas”
iniciada por Joaquim Levy e sua equipe económica está ainda longe de
conseguir o seu objectivo de retoma da confiança de empresários e
investidores na evolução da economia brasileira. Persiste uma crise de
confiança que depende de uma nova política económica mas principalmente
da percepção de um novo comportamento dos decisores políticos.
E perante
este cenário como se está a comportar o sector da construção? Tendo
como referência o mercado imobiliário de S. Paulo e os seus principais
“players”, 2015 será um ano da reorientação estratégica. Repensar os
“timing´s” dos lançamentos previstos depois de no último ano o “estoque”
de imóveis ter aumentado em média 15%, rever as metas de V.G.V. (Volume
Geral de Vendas) e ajustá-las a uma nova realidade de diminuição da
liquidez das famílias e retracção do crédito, rever as metas de “land
bank” num momento em que o valor dos terrenos para construção é elevado e
a velocidade de lançamentos imobiliários é lenta, reduzir custos não
relacionadas com a produção e vendas, criar instrumentos de
relacionamento pós venda mais eficientes por forma a diminuir o risco de
distratos.
São tempos de implementação de medidas de
reestruturação organizacional, ajustamentos, cortes na despesa, de
repensar estratégias e reformular os planos de negócios. Mas isso não
tem necessariamente de ser mau. Também do lado da demanda, as unidades
em “estoque” podem transformar-se em excelentes oportunidades de
negócios pela obtenção de um bom desconto comercial o que por sua vez
também poderá trazer vantagens aos incorporadores caso o desconto seja
compensado pelo não pagamento das despesas de conservação, IPTU e
condomínio desses imóveis.
Também a 3ª fase do Programa “Minha
Casa, Minha Vida” que prevê a construção de mais de 3 milhões de
moradias continua a gerar grande expectativa nos operadores e nos
potenciais compradores. Sendo que a população de baixa renda (1- 3
salários mínimos) deva continuar a ser prioridade por ser o segmento
onde se encontram as maiores necessidades habitacionais, para ajudar a
equilibrar o sistema de financiamento do Programa, este também deveria
beneficiar a classe média, incapacitada de financiar a preços de mercado
(taxas de juro elevadas) a compra de imóveis nos centros urbanos.
E na
indústria do “real estate”? Também vivemos momentos de ajustamento e
reformulação. A exemplo do que já aconteceu em outros países com
mercados imobiliários mais maduros e competitivos, o futuro do mercado
está nas redes imobiliárias. Para referir dois exemplos que vivenciei
profissionalmente, foi com o advento das redes de franquia imobiliária
que os mercados em Portugal e Espanha se profissionalizaram e tornaram
mais produtivos. Se este modelo de negócio vem funcionando em todo o
Mundo, certamente também vai funcionar no Brasil. Mas os resultados
operacionais das redes de franquia imobiliária dependem de quem aponta o
caminho. Porque será que com o mesmo modelo de negócio, a mesma marca, a
utilização das mesmas “ferramentas” operacionais, se obtêm resultados
diferentes?
A resposta está na capacidade de Liderança! Nos Países,
empresas e outras instituições, bons líderes conduzem a melhores
resultados, no negócio das franquias imobiliárias a liderança é também
uma condição de sobrevivência. Recordo que nos primeiros anos deste
século, os salões imobiliários e as feiras de franquia realizadas em
Portugal, contavam com a participação de mais de 10 redes de franquia
imobiliária. Dessas redes de franquia restam hoje 3 (Century 21, ERA e RE/MAX) , todas elas de
origem norte-americana e que detém uma elevada percentagem das operações
imobiliárias que se realizam em Portugal.
E aqui em Fortaleza e no
Ceará? Como já referimos em anteriores artigos, Fortaleza e o Estado do
Ceará não estão imunes ao que se passa no resto do País. Partilhando o
cenário de redução dos gastos públicos e de contração económica e também
afectados pela crise da Petrobras que levou ao adiamento da construção
da refinaria do Pecém, o prefeito de Fortaleza anunciou publicamente um
conjunto de investimentos públicos em 2015 que podem atingir um bilhão
de reais.
Também no que se refere ao sector hoteleiro, de acordo
com levantamento da ABIH – Associação Brasileira da Indústria de
Hotéis, o Ceará obteve nos primeiros dois meses deste ano um excelente
resultado com uma taxa de ocupação de 90% que resulta em grande parte de
uma maior qualificação da infra – estruturas de mobilidade. Outra obra
que aguarda ser retomada é a do Acquario na praia de Iracema em
Fortaleza. A par do Centro de Eventos do Ceará este equipamento é da
máxima importância para o aumento do número de dias de ocupação
hoteleira. O Ceará e Fortaleza precisam dotar-se de mais instrumentos de
diferenciação positiva, face às outras capitais do nordeste.
Se
no Brasil e em Angola o sector energético é o epicentro da turbulência,
a economia portuguesa continua a beneficiar da redução do preço do
petróleo. Também o POSEUR – Programa Operacional Sustentabilidade e
Eficiência Energética no Uso de Recursos criado no âmbito de um acordo
de parceria estabelecido entre Portugal e a União Europeia veio
assegurar uma dotação de 757 milhões de euros para financiamento de
projectos públicos e privados que possibilitem a transição para uma
economia com baixas emissões de carbono e que contribuam para a redução
da dependência energética do País. De acordo com fontes do sector
imobiliário, o nível de confiança dos operadores continua a subir.
Duplicar a quota de mercado no turismo residencial europeu é um
objectivo ambicioso. A venda no mercado internacional de 50.000 unidades
em 2015 é possível apesar da forte concorrência de Espanha, França e
Itália. Segundo estimativas da APR – Associação Portuguesa de Resorts, a
concretização desse objectivo poderá gerar receitas na ordem dos 10 mil
milhões de euros, 500 milhões em impostos directos e 120.000 postos de
trabalho para além de beneficiar outros sectores da economia como o
comércio e serviços. Portugal precisa de andar depressa. O preço das
“commodities” minerais irá recuperar, ainda não sabe quando mas vai. Até
lá, espera-se que o aprofundamento das relações políticas, económicas e
diplomáticas tenha expressão num Plano Estratégico de Cooperação luso
–angolano que possa contribuir para a superação das dificuldades
conjunturais dos países subscritores.
in Casa Sapo a 22.03.2015
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